Quando cortar

Imagine a seguinte história:

Um espaço de mata nativa esta sendo tomado por uma planta que silenciosamente se estabeleceu, gerando milhares de novas plantas, que irão gerar milhares de novas plantas. Neste processo devido a sua adaptação, crescimento rápido e sucesso na germinação tornaram-se capazes de se desenvolver em qualquer condição, as vezes até em cima de outras planta. Junto a isto a fauna (generalista) se adapta e se alimenta de seus frutos tornando sua distribuição mais abrangente.

Diante deste quadro você teria alguma dúvida do que fazer? Este assunto não é polêmico pois não há questionamentos ou dúvidas sobre qual atitude tomar, esta planta invasora deve ser removida!

Não podemos nos permitir não tomar nenhuma atitude, há a necessidade de restabelecer o equilíbrio...a planta invadiu por ação do homem e a natureza precisa que o homem aja para conseguir vencer a batalha.

Neste caso julgamentos errados levam a silenciosa e tenebrosa extinção de espécies e perda da biodiversidade da flora e, consequentemente, da fauna. Exemplo prático: vão embora o tiê, o tangará, o tucano de bico verde e tomam conta aves generalistas ... A paisagem fica homogênea...

Esta história não precisa ser imaginada já que está acontecendo no parque Trianon, em plena Avenida Paulista em São Paulo. As palmeiras Seafórtias foram amplamente usadas no paisagismo, dispersaram e hoje ocupam o parque aos montes, tirando espaço do Palmito Juçara, palmeira nativa e ameaçada de extinção...além de outras plantas.

A medida a ser tomada: cortar as palmerias Seafórtias (Archontophoenix cunninghamii) já devidamente identificadas e demarcadas para tal....perfeito! Sem questionamentos certo? Bom...nos últimos dias  temos visto cada vez mais opiniões que  não levam em conta nenhum embasamento técnico, apenas observações leigas de  uma história mal contada e essa reação equivocada (até mesmo de profissionais da área) leva em conta a estética do parque ...


Enquanto o paisagismo brasileiro levar em conta a estética (que culturalmente prevalece as plantas exóticas..e muitas invasoras) vamos ficando para trás ... vamos fazendo jardins "bonitinhos" mas que em nada contribuem para o meio, seja ele natural ou urbano.

Esse é só um exemplo, dentre tantos outros, que estão silenciosamente se espalhando, trazendo prejuízos de todas as formas...Se nada for feito em um futuro não distante teremos uma só paisagem de Norte a Sul, homogênea e sem graça..sem vida..mas "esteticamente ok!".

P.S: para não ficar dúvida, a Seafórtia é invasora sim, e não causa problemas só no Brasil, está presente na lista da "Global Invasive Species Database "
http://www.iucngisd.org/gisd/speciesname/Archontophoenix+cunninghamiana

Referências:
- "Designing the sustainable site" Heather Venhaus - Capítulo 7: Sustainable Solutions: Invasive Species

- "Amargo é o remédio. Porque defendo retirar as palmeiras do invasoras do Parque Trianom" - Ricardo Cardim
https://arvoresdesaopaulo.wordpress.com/2017/09/14/amargo-e-o-remedio-porque-defendo-retirar-as-palmeiras-invasoras-do-parque-trianon/


Um comentário:

  1. Ótima reflexão, Leticia! Enquanto tivermos esse pensamento puramente estético, o paisagismo no Brasil infelizmente não vai evoluir. Se bem que, a estética é completamente relativa, não?! Quer coisa mais linda que a diversidade (de animais e plantas) em perfeita harmonia? Mas isso é assunto para outros comentários! rsrsrsr Um abraço

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